IGOR SIQUEIRA E LEO BURLÁ
RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS)
O Flamengo foi condenado na Justiça do Trabalho a indenizar Benedito Ferreira, ex-vigia do Ninho do Urubu. Ele estava trabalhando no dia do incêndio que matou dez jogadores da base, em 2019.
O processo foi movido principalmente porque Benedito alega ter consequências psicológicas pelo que viveu naquele trágico dia.
Ele participou do resgate de alguns meninos, tirando três dos containers em chamas.
O valor definido provisoriamente na decisão de primeira instância é de R$ 600 mil. O montante final da indenização ainda será calculado depois que o processo passar pela segunda instância.
O Flamengo pode recorrer. O prazo para se manifestar acaba semana que vem.
TRANSTORNOS
Na sentença, o juiz Bruno Andrade de Macedo, da 23ª Vara do Trabalho do Rio, levou em conta o resultado de um laudo pericial que atestou vários problemas em Benedito, decorrentes do que ele viu no incêndio no Ninho.
O perito apontou transtornos depressivos, de adaptação e de pânico, “com quadro agravado”.
Com isso tudo, Benedito perdeu a capacidade de trabalhar na função que exercia no Flamengo, segundo o laudo. O documento foi classificado pelo juiz como “conclusivo”.
Esse diagnóstico serviu para fazer uma ligação entre os problemas de saúde mental e o que o segurança passou no trabalho.
A situação ficou mais grave para o Flamengo nesse processo porque não havia brigadista de plantão no Ninho e tampouco o segurança recebeu treinamento para manusear extintor de incêndio.
O TRAUMA E A COMPENSAÇÃO
O trauma sofrido pelo segurança está também ocasionado pelo fato de ele ter conseguido salvar três garotos. Mas, apesar de ter visto e tentado tirar um quarto jogador, ele não conseguiu. As chamas eram intensas.
Para o juiz, o Flamengo “atraiu o dever de indenizar” por causa das condições do ambiente de trabalho e dos danos sofridos pelo autor no local.
Até por isso, R$ 100 mil dos total de R$ 600 mil de indenização estimados são atrelados a dano moral.
O Flamengo também foi condenado a pagar uma pensão vitalícia a Benedito.
A decisão judicial determina que o Flamengo ainda reintegre Benedito ao corpo de funcionários do clube.
A questão é que ele teria que exercer outra função, até em razão do laudo que apresentou.
Para se desvencilhar dessa obrigação, o Flamengo teria que ir atrás de decisão contrária via recurso.
A reportagem apurou que Benedito até vê uma reintegração com bons olhos, porque poderia voltar a ter direito a plano de saúde, o que o ajudaria na continuação do tratamento psicológico.
Benedito chegou a pedir adicional de periculosidade, mas isso não foi concedido, já que ele trabalhava como vigia desarmado.
O LADO DO FLAMENGO
O Flamengo mandou um representante na audiência de conciliação que não teve sucesso.
O preposto do clube alegou que Benedito não teve tempo para participar do resgate dos jogadores, já que o incêndio foi muito rápido. Segundo o representante do Flamengo, foram os próprios garotos quem quebraram as janelas.
O Flamengo ainda alegou que custeou o tratamento de saúde de Benedito até a segunda alta previdenciária. O representante do clube disse ainda que o pagamento foi interrompido “com efetiva cura do autor, o que ocorreu antes do final do contrato” de trabalho.
A questão é que o laudo pericial aponta que os traumas ainda estão bem vivos na memória do segurança.
Procurado pela reportagem, o Flamengo informou que o assunto está com o departamento jurídico do clube, que analisará a sentença e verificará o encaminhamento do tema.
Deixe um comentário